terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Época festiva ímpar, para vivenciar, apesar deste tempo estranho...

Natal

Fui ver ao dicionário de sinónimos

a palavra mais bela e sem igual,

perfeita como a nave dos Jerónimos...

E o dicionário disse-me Natal.


Pergunto aos poetas que releio:

Gabriela, Régio, Goethe, Poe, Quental,

Lorca, Olegário...E a resposta veio:

E é Christmas...Natividad...Noël...Natal.
 


Interroguei o firmamento todo!

Cobra, formiga, pássaro, chacal!

O aço em chispa, o "pipe-line", o lodo!

E a voz das coisas respondeu Natal!


Pedi ao vento e trouxe-me, dispersos,

- riscos de luz, fragmentos de papel -

cânticos, sinos, lágrimas e versos:

Um N, um A, um T, um A, um L...


Perguntei a mim próprio e fiquei mudo...

Qual a mais bela das palavras, qual?

Para quê perguntar se tudo, tudo,

diz Natal, diz Natal e diz Natal?!


Adolfo Simões Müller, Moço, Bengala e Cão - Poemas, 1971

Edição do autor, Lisboa

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